18 julho, 2022

Pós terapia, pôr do sol e anoitecer


A sensação da pós terapia. Ou a sensação do suor secando no rosto após correr para chegar, ou a sensação do vento no rosto, revelando o caminho por onde as lágrimas percorreram. Nítida lembrança que mesmo saindo daquele prédio catártico respirando fundo, o choro (por muitas vezes entre soluços que intensificam tal respiração profunda) esteve ali. Aquilo foi dito, aquilo foi exposto. Dedo na ferida. Durante aqueles 50 minutos sangrou a-bun-dan-te-men-te. Nem sempre o pós choro, mas quase sempre ele. Somado à insistente hora do final do dia, quase todas minhas sessões me colocam a ver o sol se pôr. Na epifania de milhões onde tudo se sente mas quase nada tem um nome, endereço ou destino, é tudo um caos mas ainda é possível respirar fundo e sentir a lágrima ou o suor secar. 

Todo dia o sol nasce e se põe, a lua também. Mas nem sempre eu vejo. Admito que não os ver naqueles dias em que o sentimento é de ser um grãozinho de arroz no universo infinito não é de tudo ruim, mas necessário. Também há aqueles em que há um respiro de vida: você também merece ser feliz! 

Os dias vem e vão. Ponto final. Não se repetem. É um após o outro. E tudo pode mudar a qualquer hora, mesmo que não mude. Pode. E é como aquele quadro das escadas do Escher que eu gosto, de ponta cabeça de qualquer perspectiva. Entre bads e mini respiros que quase lembram a sensação da esperança na felicidade novamente, seguimos. Tu é forte, José. O tempo passa. 
Não é que eu não ache que serei feliz de novo. Eu sei que vou. É sobre me permitir sentir e processar, e achar que entendi, sentir e digerir de novo. Falando em digestão essa náusea constante e perda de apetite poderiam ir embora, ein querida histeria? 
Eu sei que vai passar, que toda merda vira adubo (se procurar bem acha um texto meu antigo com essa frase naquela adolescência dramática e pseudo poeta). Mas é sobre sentir o que tiver que sentir, sem se entregar e sem fugir. Assim os dias vem, cada um do seu jeito, e vão. Essa é a minha essência. Isso é o que há de mais puro em mim. Desde que conheço minha consciência. Sartre diz que a existência precede a essência. Eu não acredito que tem algo inato, eu acredito que existimos e imprimimos ações no mundo, e ele na gente. Ah se não cuidar. Essência é coisa pura, vem de dentro, é íntimo e delicado. É preciso tomar cuidado com possíveis perigos.

Eu precisava voltar a escrever. Vomitar esse enjoo que não é literal. Mas como diz o rodapé desse site, o processo não é fácil: sangra muito, ferida aberta no peito exposta. Respira fundo, pega vento no rosto e lembra de deixar a ferida bater vento também. Dói para um caralho, mas passa. Enquanto houver poesia pra choramingar, haverá esse espaço, esse colo de mim para mim mesma. Não falo de escrever, mas de me permitir sentir.

Aos amigos que ficam: escreva escreva escreva além de outros recados e a própria analista. Tá aí. Um pouquinho do meu vômito moldado. 

Um comentário:

Plinio H. disse...

Sdds dessa poeta "injuada"