01 janeiro, 2023

2022

2022 realizei muitas coisas ao mesmo tempo que (re)vivi meus piores medos, dessa vez sem anestesia. Análise cantou, ansiedade dominou, corpo caiu diversas vezes, chorei horrores sozinha, chorei no colo de amgs, na mesa de bares e cafés… incontáveis ubers. Fiz algumas coisas pela primeira vez, mais importantes do que de fato a importância que dou ao recorda-las. Me permiti ser frágil e deixei que os outros vissem minha fragilidade. Não foi fácil deixar que me vissem daquele jeito, mas te ho aprendido que é extremamente necessário. Com muito amparo de diversas formas e choros com muito soluço na análise, voei timidamente. Com baita medo de cair e machucar, não saber cair. Pousar parecia não existir, o medo de cair e tudo voltar domina(va). Mas saber cair é o que? Dessa vez foi diferente. Dessa vez foi fundo, sem distração e com os olhos atentos para não cair em possíveis subterfúgios que de nada me adiantariam. Foi sem anestesia. Sangrou para um caralho. A-bun-dan-te-men-te. E ainda dói também. Reconhecer certa coisas que estão aqui há 28 anos e me olhar enquanto vivia meus medos concretos no vazio abismal que se formou na minha frente. Um vazio que não se formou do nada, da mesma forma que não se vai assim. O que me manteve sã, se é que é possível dizer que estive assim tanto antes quanto agora, foi um sentimento de paz interior que escarafunchei dolorosamente para encontrar. E tenho lutado pra manter em contato. Como pode a gnt se afastar tanto de si habitando o mesmo corpo? 

25 julho, 2022

Desejo

Eu queria te mandar tomar no cu.
Eu queria
Eu queria estar desejando que você se fode-se pra lá 
Eu queria mesmo

Minha amiga falou para te mandar luz 
“Quando pensar nela manda luz”
Minha prima disse que diante das circunstâncias 
“Não facilitou muito”

Eu não tenho nada pra te enviar 
Hoje bateu vontade de te mandar afeto 
Dizer que apesar de você eu to aqui sendo eu 
E deixei quieto, eu não tenho nada a te dizer 

Eu vou ficar aqui
Sendo eu 
Exaltando esse amor que acabou
Cuidando para a ferida curar  

É isso que eu desejo


Sem título


 O cursor fica piscando no início da página e aquele texto de pensamentos confusos não me sai da cabeça. Literalmente não sai. O cursor e eu somos a mesma coisa, ele fica ali parado, piscando, e eu encarando ele piscar enquanto visito esses sentimentos emaranhados e tento pinçar uma frase. Não cabe num tweet. Abre um post, tamborila os dedos no teclado... Encara o cursor piscando na folha em branco. Divaga sobre ele, sente-se ele. NADA. Esse é o sentimento. O cursor piscando no início da página, potencialmente contendo tudo e esperando parado&inquieto algo sair. Não sai. Não sempre.

Não tem poesia, não tem tweet que expurga isso. Tento, na esperança de vir aqui, que eu possa matar um pouquinho disso em mim. Transmutar, transformar, transcender. Talvez sejam palavras melhores. A verdade, é que eu não sei o que dizer, não há mais, as cortinas fecharam e as luzes foram todas apagadas. Não há quem vá ouvir. Ela não está mais lá. Só sobrou eu na plateia. Assistindo-a partir. Eu gosto de contemplar o espetáculo, digerir e partir sem resquícios, se possível. Depois que as cortinas fecham a gente respira. Às vezes voltam pra salva de palmas, às vezes é um fim absolutamente silencioso e ensurdecedor. "Acabou?"

Outro dia eu tomei duas taças de vinho e vomitei. Eu fiquei tão feliz! Eu sei que isso é extremamente perturbador, mas não se assuste. Eu só pensava em como queria estar vomitando e colocando pra fora toda esse enjôo pesando meu estômago. Eu queria estar vomitando você, te pondo pra fora, ainda que de forma perturbadora e doída. Eu só queria te pôr pra fora de mim, sua presença ou o que sobrou da tua ausência barulhenta.

Me custou muito ser a mulher quem eu sou, em essência. Isso tudo que você tá vendo, ou já viu. Intensidade, força, delicadeza, drama, humor duvidoso, dificuldade em demonstrar "fraqueza"... Acredito às vezes que o traço de apaixonamento pode ser o mesmo de desapaixonamento. 

- O que você pensa disso, baby?

18 julho, 2022

Pós terapia, pôr do sol e anoitecer


A sensação da pós terapia. Ou a sensação do suor secando no rosto após correr para chegar, ou a sensação do vento no rosto, revelando o caminho por onde as lágrimas percorreram. Nítida lembrança que mesmo saindo daquele prédio catártico respirando fundo, o choro (por muitas vezes entre soluços que intensificam tal respiração profunda) esteve ali. Aquilo foi dito, aquilo foi exposto. Dedo na ferida. Durante aqueles 50 minutos sangrou a-bun-dan-te-men-te. Nem sempre o pós choro, mas quase sempre ele. Somado à insistente hora do final do dia, quase todas minhas sessões me colocam a ver o sol se pôr. Na epifania de milhões onde tudo se sente mas quase nada tem um nome, endereço ou destino, é tudo um caos mas ainda é possível respirar fundo e sentir a lágrima ou o suor secar. 

Todo dia o sol nasce e se põe, a lua também. Mas nem sempre eu vejo. Admito que não os ver naqueles dias em que o sentimento é de ser um grãozinho de arroz no universo infinito não é de tudo ruim, mas necessário. Também há aqueles em que há um respiro de vida: você também merece ser feliz! 

Os dias vem e vão. Ponto final. Não se repetem. É um após o outro. E tudo pode mudar a qualquer hora, mesmo que não mude. Pode. E é como aquele quadro das escadas do Escher que eu gosto, de ponta cabeça de qualquer perspectiva. Entre bads e mini respiros que quase lembram a sensação da esperança na felicidade novamente, seguimos. Tu é forte, José. O tempo passa. 
Não é que eu não ache que serei feliz de novo. Eu sei que vou. É sobre me permitir sentir e processar, e achar que entendi, sentir e digerir de novo. Falando em digestão essa náusea constante e perda de apetite poderiam ir embora, ein querida histeria? 
Eu sei que vai passar, que toda merda vira adubo (se procurar bem acha um texto meu antigo com essa frase naquela adolescência dramática e pseudo poeta). Mas é sobre sentir o que tiver que sentir, sem se entregar e sem fugir. Assim os dias vem, cada um do seu jeito, e vão. Essa é a minha essência. Isso é o que há de mais puro em mim. Desde que conheço minha consciência. Sartre diz que a existência precede a essência. Eu não acredito que tem algo inato, eu acredito que existimos e imprimimos ações no mundo, e ele na gente. Ah se não cuidar. Essência é coisa pura, vem de dentro, é íntimo e delicado. É preciso tomar cuidado com possíveis perigos.

Eu precisava voltar a escrever. Vomitar esse enjoo que não é literal. Mas como diz o rodapé desse site, o processo não é fácil: sangra muito, ferida aberta no peito exposta. Respira fundo, pega vento no rosto e lembra de deixar a ferida bater vento também. Dói para um caralho, mas passa. Enquanto houver poesia pra choramingar, haverá esse espaço, esse colo de mim para mim mesma. Não falo de escrever, mas de me permitir sentir.

Aos amigos que ficam: escreva escreva escreva além de outros recados e a própria analista. Tá aí. Um pouquinho do meu vômito moldado. 

14 maio, 2020



Aos apressados, aos impacientes, ao atrasados e aos descontentes. Àqueles que correm, põe pé na frente de pé, aceleram o passo, xingam o trânsito, atravessam a um metro da faixa. Aos que gritam aos celulares, ao que tamborilam os dedos sobre as mesas e aos que não param pra respirar, espiar, só sabem piorar.
Pra os que nunca olham da janela pra ver o sol nascer, ou àqueles que engoliram o café e esqueceram do bom dia. Àqueles trancados dentro de muros, de salas, de pessoas, trancados dentro de si mesmos e nunca percebem o sol se pôr ou a lua chegar. Sorrateira, transforma azul bebê em céu rosado, violeta, azul um tom mais escuro, azul alguns tons mais escuros. Àqueles que nunca viram a primeira estrela aparecer ou a lua se encher. Aos que nunca olharam pro céu pra reconhecer constelação e perceberam que quanto mais concentrado é o olhar, mais ele se expande, estrelas se multiplicam e se espalham diante de nós. Aos que se perderam admirando o vasto e interminável horizonte. Aos intermináveis papos de fim de tarde e o entardecer do céu, da alma na gente.
Cada milhar existente das impacientes cegueiras, que nos fazem passar apressados e ignorantes sobre as coisas miúdas e belas da vida, compenso ao esboçar um sorriso que não dura nem três segundos, mas que enche a vida de graça para mais três dias da irredutível corrida para a imensidão bruta e inalcançável da vida.