14 maio, 2020



Aos apressados, aos impacientes, ao atrasados e aos descontentes. Àqueles que correm, põe pé na frente de pé, aceleram o passo, xingam o trânsito, atravessam a um metro da faixa. Aos que gritam aos celulares, ao que tamborilam os dedos sobre as mesas e aos que não param pra respirar, espiar, só sabem piorar.
Pra os que nunca olham da janela pra ver o sol nascer, ou àqueles que engoliram o café e esqueceram do bom dia. Àqueles trancados dentro de muros, de salas, de pessoas, trancados dentro de si mesmos e nunca percebem o sol se pôr ou a lua chegar. Sorrateira, transforma azul bebê em céu rosado, violeta, azul um tom mais escuro, azul alguns tons mais escuros. Àqueles que nunca viram a primeira estrela aparecer ou a lua se encher. Aos que nunca olharam pro céu pra reconhecer constelação e perceberam que quanto mais concentrado é o olhar, mais ele se expande, estrelas se multiplicam e se espalham diante de nós. Aos que se perderam admirando o vasto e interminável horizonte. Aos intermináveis papos de fim de tarde e o entardecer do céu, da alma na gente.
Cada milhar existente das impacientes cegueiras, que nos fazem passar apressados e ignorantes sobre as coisas miúdas e belas da vida, compenso ao esboçar um sorriso que não dura nem três segundos, mas que enche a vida de graça para mais três dias da irredutível corrida para a imensidão bruta e inalcançável da vida.

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