25 julho, 2012

This isn't giving up, no this is letting go



E talvez seja assim que o amor ou esses sentimentos urbanóides de beijos sujos, com palavras ditas com sorrisos cheios de malícia, funcionem. Não é desistir, é deixar ir. Por que no fundo a gente sabe que é doentio demais levar a sério esses amores, esse taquicardia que a gente deixa nascer em bares imundos enquanto a noite vira dia, a gente se debruça sobre o balcão, pede uma, duas, três, e vê o quão bonito pode ser, mesmo sem aquele romantismo, aquela doçura que o amor idealizado deve ter.
A gente vai por aquele lance carnal, aquela verdade estúpida, o jogo pisar e ser pisado. A gente gosta de apanhar, de correr atrás, chorar, fazer birra, declarar. Mas no final, a gente abre mão, deixa ir, com narinas inflamadas observando a beleza do céu laranja do dia ao nascer. O laranja, a cor linda que não é nada além da sujeira, da poluição combinada com sei-lá-o-que e torna tudo tão bonito, mas ainda sujo.
A gente chora por cada bobagem, bom, não sei vocês, mas eu choro por cada idiotice. Veja bem, eu aqui, achando bonito um desses amores sujos indo embora, feliz e bonito como o pôr do sol laranja e imundo, cheios dos erros que mantemos vivos todo santo dia. Seja dia de bater, apanhar, correr ou deixar ir. Ainda que seja esse amor sujo urbanóide de beira de esquina fedendo a mijo dos mendigos e seus esparadrapos podres.
Será que amar implica nisso? Deixar ir, voar, pra não se machucar mais, pra não deixar que vire algo feio e rancoroso? Como diria alguém, "deixo as coisas que amo livre"? Amar ao ponto de querer o melhor, de deixar voar, escapar, sair do alcance, perder de vista?
O amor e suas diversas faces, do compartilhar o sono ao deixar ir. É tudo amor no final das contas, quando a gente chora porque é bonito, porque é leve, porque deixamos ir, sem pestanejar, pra não matar o amor, e deixá-lo então vivo para sempre. E que a fé no amor nunca morra, eu peço baixinho, choramingado ao que estou tornando livre.

23 julho, 2012

Às histórias de amor, beijos apaixonados e romances que nunca aconteceram



O que será das histórias de amor que não aconteceram? As que ficam pairando infinitamente sobre o ar, no “e se”, no não beijo, no não toque. As histórias de amor que nascem e terminam em conversas infindáveis, em brincadeiras de sorrisos encantadores e em subentendidos escrachados. No amor bonito, puro, virgem, no querer sem fim, na aparição surpresa ou nos gestos quase não notáveis, senão por cada minuciosa observação. O amor que nada constrói de material, mas que de abstrato se torna imortal.
Os amores que não aconteceram, os corpos que não se somaram e os lábios que nunca se tocaram. Os risos que foram se calando, por terceiros, por problemas, por amar demais e não conseguir suportar a impossibilidade do toque, do cheiro e da distância.
Os amores que nunca se consumaram, nunca começaram no mundo material, no mundo do entrelaçar dos dedos. As tantas histórias, lindas, belíssimas, puras e abstratas que não morrem, não desaparecem e nem se dissipam. As histórias mais perfeitas dentro da imperfeição que implica amar.
A sombra clara, que no meio da multidão se aproxima e lhe sorri, surpreende, e lhe grita selvagemente ao coração tão cativado pelo o que não dizem nas palavras, mas entregam nos olhares e sorrisos meio tortos, meio escondidos, meio sem querer.
A sombra chega, se transforma em corpo, se põe diante de mim. Eu, tola, sonho com o dia em que não só nossas almas se encontrarão, mas nossos corpos conhecerão o calor do toque e o conforto do abraço. Mas o corpo se vai, e leva junto toda a esperança, e com ela os sorrisos tortos e sem explicação, os pensamentos contínuos ao objeto amado, o magnetismo dos corpos, o anseio gritante do tão almejado toque, a fé no amor.
Enquanto ao amor que teve e deixou escapar, sobra a sombra na multidão, nunca se aproximando ou se afastando. Nem sequer perdendo a nitidez. Mas sempre presente mostrando o quão perfeito é o ideal, e sussurrando ao pé do ouvido as palavras doces dos amores que se calaram e fincaram moradia no espaço atemporal, estacionados na eternidade.

22 julho, 2012

Pobre destinatário de confuso remetente



Te escrevo entre folhas caídas do outono, ora bonitas, ora tristonhas
Te escrevo entre lágrimas e sorrisos, e se me atrevo mais, choro até por isso
Te escrevo meio assim, sem querer, e quando caio em mim, aqui está você

Te escrevo desse meu jeito meio torto, ora prosa, ora poesia
Meio sem formato, sem gramática, sem forma
Nada parnasiano, mas tão rico em sinceridade, que quem liga? Quem nota? 
Me diz quem, de fato, se importa? 


Te escrevo sem porquê, sem na verdade entender
Nem sei se me lê, mas escrevo-te para saber
Saber na verdade nem sei mais o quê
Talvez o quanto me ocorra, mas pra isso não seria preciso escrever

Digo tanto coisa, a quem digo nem mais sei
Não escrevo a ti por fim, escrevo será, portanto, a mim?

Deixando em palavras o que não mais faço questão de entender
Junto alguns verbos no gerúndio à continuidade de tudo aquilo que paira no espaço
No infinitamente não ser, o que não se dissipa, mas também não ousa desaparecer

Vejamos por aqui, a quem falo? A quem escrevo?
A quem apresento tantos amores em formas indefinidas de urgente anseio?


O que escrevo, nada mais é do que me passa. 
Passam por mim tantos bobos sorrisos e suspiros sem graça, que escrevo a quem me fala, ainda que erroneamente direcione minha fala.