01 outubro, 2013

Remar, re-amar, amar

de Caio Fernando de Abreu


"Já não sei dizer se ainda sei sentir. O meu coração já não me pertence, já não quer mais me obedecer! Parece agora estar tão cansado quanto eu. Até pensei que era mais por não saber que ainda sou capaz de acreditar. Me sinto tão só e dizem que a solidão até que me cai bem. Às vezes faço planos, às vezes quero ir para algum país distante e voltar a ser feliz! Já não sei dizer o que aconteceu se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu. Se meu desejo então já se realizou o que fazer depois, pra onde é que eu vou?
Eu vi você voltar pra mim; Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica, o que for. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças!Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar."

28 setembro, 2013

"Faça Desse Drama" - 5 A SECO


"Onde a curva do amor findar
Corte que não quer fechar
Ande onde a onda te levar
Se naufragou, faça desse drama sua hora"





20 julho, 2013

A menina pintora

A menina calada pinta a boca de vermelho
a menina que nada fala pinta a saída da alma em meio a devaneio
a menina que tudo observa admira com olhos atentos
a mesma tal menina expõe com pinceladas o que vem de dentro

A menina é retida, contida, esparramada
a menina é, creio não haver melhor palavra: estabanada
chora com a alma, sente com os olhos, se atrapalha com os pés
e mesmo sem saber, entender ou deter, se adapta às marés

Ela fala, e disfarçada, se destaca da massa
a moça-menina tão distraída enquanto passa
e enquanto resiste, e enquanto persiste
a moça-menina que enquanto sonha, existe!

02 abril, 2013

O Tom do amor - Paulinho Moska



O amor vai te contar um segredo
Não precisa ter medo
Nem sair correndo
O amor nasce pequeno
Cresce, fica estupendo
Às vezes o amor está ali
Você nem tá sabendo
O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...
É mãe, é filho, é amigo,
Às vezes num canto esquecido existe amor
Antigo, antigo
O amor que cuida, parte e assusta
Que erra e pede desculpas
Às vezes o amor quer ferir
E se cura doendo
O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...
É pausa, silêncio, refrão
E explode nessa canção
O amor vai te contar
Um segredo, fica atento, repara bem
Que o meu amor é todo seu
Antigo.

10 março, 2013

Quando eu me for, me chame


Se eu for embora, se eu sair, se eu faltar: me chama
Se eu chorar, se eu argumentar, se eu tentar: me ouça
Eu tenho uma necessidade infantil de ir embora para que sintam minha falta

Olha, não tenho orgulho, te grito quantas vezes precisar
Mas se alguma vez nos virarmos as costas e eu não te gritar: me grite!
Me grite porque mora em mim uma insegurança estúpida que faz disso necessário
Que faz do sentir a minha falta, do me chamar, do me procurar: seguro!

Se eu for embora, se eu não voltar
Como ato inusitado, como inesperado
Espero insegura que me chames

Para que eu possa sentir
Para que eu possa confirmar
Para que eu tenha a certeza que não só sinto falta, mas a faço

Para que esse medo idiota de ser indiferente me abandone
Porque, olha, é tão ruim quando não me chamam
Quando não me sentem falta
Quando para comigo não me qualifica o "indispensável"

Se um dia eu for embora, virar as costas, mas sem parar de falar
Se um dia em for, se um dia eu for e não mais voltar
Me busque, estarei na esquina engolindo os soluços frustrados
Estarei na calçada percebendo a falta que não faço, com os olhos marejados

01 março, 2013

Porque amar sem Vinícius é amar sóbrio demais



Soneto do Amor Total 
(Vinícius de Moraes)


"Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude. "


Meu soneto preferido de Vinícius.
E na foto: mon amour!

18 fevereiro, 2013

Felicidade pela tristeza

Ás vezes fico triste. Fico triste e sei que posso dar a essa tristeza um quadrilhão de nomes, desculpas, porquês. É o fim da escola, é o não passar no vestibular, é o pai, a mãe, a tpm e o falatório do mundo em volta. Porque o mundo, olha o mundo... é de uma poluição sonora horrenda! Eles gritam, cantam, batem, martelam, perfuram, espremem, cortam, lixam, morrem. Morrer é silencioso. Imagino que quando a gente morre o espetáculo tem tempo diferente pra gente, uma perspectiva quietona, lerdona, tipo novela. Acho que morri. Morro muitas vezes, mas morro sempre que vejo que não há desculpas pra esse nózinho na garganta doído que aparece de repente. É uma tristezinha que tem seus tipos, e esses tipos me estapeiam na cara atônita, na cara cansada, com a face arruinada, calada, morta.
Essa minha imensa mania de ser eu me cansa. Tão mais fácil ser outro. Outras preocupações, outras pessoas, outras vidas, afazeres. Se ocupada, atolada. Se vazia, entediada. Um escritor, cujo nome não me lembro, muito menos a citação exata, disse isso. É preciso ter o amargo para valorizar o doce, e vice-e-versa. É essa nossa eterna mania de pôr a felicidade inalcançavelmente longe do toque. Tem outro poeta que disse isso, Vicente de Carvalho:


"Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos."

 

Sei lá onde estou onde pus a danada, tô procurando, vou achar! Porque creio que felicidade mora em cristaizinhos pequeninos, cada coisa, cada gesto, cada pessoa nos traz um pouco de felicidade e estar feliz é conseguir o arranjo sincronizado e harmônico do todo, montar esse tal monumento da felicidade geral com estes cristaizinhos. Satisfação.

12 fevereiro, 2013

"José"

Poema de Carlos Drummond de Andrade,
 poema que mareja os olhos do José que vive em mim, em todos nós.
E que cutuca o coração do José que não continua,
 mas também não morre.




              "E agora, José?
              A festa acabou,
              a luz apagou,
              o povo sumiu,
              a noite esfriou,
              e agora, José?
              e agora, você?
              você que é sem nome,
              que zomba dos outros,
              você que faz versos,
              que ama, protesta?
              e agora, José?

              Está sem mulher,
              está sem discurso,
              está sem carinho,
              já não pode beber,
              já não pode fumar,
              cuspir já não pode,
              a noite esfriou,
              o dia não veio,
              o bonde não veio,
              o riso não veio
              não veio a utopia
              e tudo acabou
              e tudo fugiu
              e tudo mofou,
              e agora, José?

              E agora, José?
              Sua doce palavra,
              seu instante de febre,
              sua gula e jejum,
              sua biblioteca,
              sua lavra de ouro,
              seu terno de vidro,
              sua incoerência,
              seu ódio - e agora?

              Com a chave na mão
              quer abrir a porta,
              não existe porta;
              quer morrer no mar,
              mas o mar secou;
              quer ir para Minas,
              Minas não há mais.
              José, e agora?

              Se você gritasse,
              se você gemesse,
              se você tocasse
              a valsa vienense,
              se você dormisse,
              se você cansasse,
              se você morresse...
              Mas você não morre,
              você é duro, José!

              Sozinho no escuro
              qual bicho-do-mato,
              sem teogonia,
              sem parede nua
              para se encostar,
              sem cavalo preto
              que fuja a galope,
              você marcha, José!
              José, para onde?"

06 fevereiro, 2013

Sobre músicas fofas na madrugada



Há algum tempo atrás, depois de assistir um bom filme teenager americano ou então ouvir uma bela música fofinha eu podia ficar por horas parada, imaginando um amor impossível, um amor platônico, um futuro recheado das mais diversas cenas dignas de filme americano, de comédia romântica pra ser mais exata.
O tempo passou, deixei de assistir boa parte desses filmes, fui vivendo a parte da "desilusão amorosa" do roteiro. Desacreditando, preferindo procurar e acreditar numa realidade mais fria, mais racional, menos sonhadora, detalhista, sorridente e apaixonante. Convenci eu mesma a deixar de lado os sonhos utópicos, as vezes em que rolava na cama antes de dormir imaginando mil e uma situações. Acabei por ganhar de mim mesma na batalha, o lado um-pouco-mais-realista ia tomando espaço, plantando e enraizando suas ideias.
Hoje essas músicas, esses filmes continuam ainda a mexer comigo. Hoje no final feliz de cada um desses filmes, quando toca uma música feliz e animada para nos convencer de que o filme foi ótimo e adoramos, eu sinto um aperto enorme. Talvez eu pudesse dizer que é saudade, mas não é. Ou não, é só saudade. Hoje no fim de cada filme ou no percurso melódico de cada uma dessas musiquinhas apaixonantes, sinto dentro de mim a agonia de não conseguir externar o suficientemente o que sinto, não conseguir (nem mesmo gritando) dizer alto o bastante o que sinto. Entender, nomear, rotular, explicar, exemplificar, justificar.
Hoje, em cada momento desses que para  mim já significaram tantos outros sentimentos mais, sinto a agonia de amar. Sim, porque amar é agonia pura. É aquela coisa chata (porém amável) que se instala em você e não te permite etiquetar ou externar. Hoje, a cada musiquinha fofa que ouço tocar na rádio eu penso em você, e como não sei nada de nada. Mas que também não quero saber, por mais que eu queira, e quero, e quero muito! Eu fico aqui pensando, agoniada, suspirando, variando entre os pensamentos. Que bicho me mordeu? Poderia jurar ter sido um zoológico inteiro! Mas não há bicho, não há razão, não há nem palavra que complete ou nomeie. Poema, texto, imagem, frase ou gesto. E isso só cresce, e cresce. E eu? Eu só agonizo, agonizo, e me torno casa desse monstruoso amor. Mas amor também não é a palavra, não é o bicho.
Às vezes, e isso acontece com alguma frequência, nem o verbo amar me parece suficiente, nem se gritado. Parece tudo tão grande, alegórico e conhecido. Mas mais uma vez, não é. Se algo aqui é, se algo aqui existe, é essa agonia do "eu te amo" não expressar o suficiente.
Continuo na busca, quero achar algo que diga tudo. Que se encaixe, mas sem fronteira, pro bicho crescer em paz, até me explodir se preciso. Mas continuo na busca, quero achar essa palavra, gesto ou esse ovni que vá representar meu amor, meu bicho, minha agonia.
Eu te amo, e mesmo isso não sendo o suficiente para dizer tudo o que quero, é, por ora, o melhor que eu tenho pra te dizer agora.

01 fevereiro, 2013


Outro dia entre a correria e mais correria causada por motivos de: ser enrolada, aconteceu algo muito interessante e que agora junto ao que acaba de me acontecer, não posso deixar de contar a quem me lê. Leitores invisíveis que acabo de constatar que existem. Sim, você aí que me lê, eu tenho dúvidas da sua existência!

Lá estava eu, sendo fodida ferrada pela burocracia infernal de um cartório. Choramingando ao carinha que me atendia para que conseguisse abrir uma maldita firma em meu nome. Enquanto tagarelava e enchia o ser de desespero, eis que o bendito diz: "Olha, eu sei que você é gente boa. Eu te conheço e tal, mas não posso fazer, sua identidade tem que estar em dia...".
Depois de mais uma dose do chororô pela validade da minha carteira de identidade é que caio em mim e me pergunto: "Como assim me conhece?! Nunca o vi mais burocrático!".
Foi quando de tanto insistir ao perguntar de onde conhecia o carinha que estava me atendendo e me fazendo choramingar pela identidade vencida, ele disse: "Você não é dona daquele blog, Uma Louca Pede Help?".
Gente, vocês tem noção do que foi isso? Alguém, de quem nunca vi o rosto, de repente ao me atender no cartório me reconhece pelo blog? Ok, vocês não devem saber o que é isso, ou o que isso provoca em mim, mas sei que fiquei boquiaberta. Alguém "reconhcendo" meu trabalho... Ok novamente, isso de trabalho não tem nada, não ganho por isso, escrevo por prazer, mas olha, fiquei pasma, muito feliz. "Três anos e um desconhecido me reconhece na rua. Nada mal, Caroline!".

Hoje casualmente uma amiga falou do meu blog, e de como ela acha que escrevo bem. Acho incrível receber elogios sobre o que escrevo, meus escritos são a parte de mim mais verdadeira e exposta que alguém pode conhecer. Mas quando esse elogio vem de alguém próximo, de alguém que não tem o costume de ler o que escrevo no blog pela obrigação de me ser próximo, parece que pesa mais.
Já fiz amigos virtuais e amigos reais que me foram dados pelas palavras que aqui posto. Nada como a sua alma transfigurada em versos públicos para que alguém se identifique e compartilhe da dor, do amor, ou do vazio. Aos amigos que me leem, um imenso obrigada. Não to me achando nada por favor, mas tenho que agradecer aos que me leem. Não que estejam prestigiando um grande poema, um belo texto, mas estão me encorajando a escrever, a continuar. Escrever é uma forma de se contornar, se conhecer, usar do tato intelectual, mas se não houvesse público talvez eu não escreveria. Talvez eu não sentisse a necessidade de me por em frente a folha em branca e tratar com honestidade o que sinto.
Hoje recebi um dos elogios mais lindos que em 3 anos de pseudo-blogueira já recebi, deixo ele guardado aqui. E que eu escreva e possa tocar ainda mais amigos, seja com lágrimas, esboços de sorrisos ou gargalhadas (acho que nunca), é muito saber que alguém do outro lado pode se identificar e se emocionar com algo tão meu.

"Então, sabe quando alguma coisa tem aquele "gostinho de casa"? Aquela sensação de conforto e tranquilidade, o tipo de coisa que a gente só da atenção realmente quando volta a dormir no nosso proprio quarto depois de seculos viajando? Acho que ja faz tanto tempo que me acostumei com o que voce escreve, que cada palavra lida me traz essa sensação. Cada texto se encaixa nas minhas situações de uma forma tão suave... Mesmo se as vezes eu passar meia eternidade sem ler ou ouvir uma palavra sua, é só ir pro seu blog que cada frase, versoou vírgula que seja carrega sua voz, seu olhar sério mas que, no fundo, traz aquele brilho sonhador, brilho de menina-mulher, brilho de esperança. Por isso que o que voce escreve sempre me deixa inspirada, é porque vem de você. Ok, nunca fomos muito próximas, mas dizem que quando alguém escreve assim, as palavras saem do coração, e o seu olhar transmite isso. Por isso sinto que conheço voce mais intimamente, apesar de nunca ter muita coragem pra aprofundar uma conversa, ou nossa amizade. Minha timidez ainda lança barreiras ao meu redor.. Enfim, sua escrita é terrivelmente adoravel, voce tem um olhar detestavelmentee inspirador, e é uma pessoa que me traz esperança. Esse é um dos momentos em que eu precisava de esperança, e voce me trouxe isso mais uma vez, mesmo sem querer. Obrigada por isso, e obrigada por escrever tão bem. E eu espero ter feito algum sentido." Um "Oi, muito obrigada" especial pra Bruna Burgos (que fez o comentário acima), para Miriam Paim (uma fofa que esbarrei na internet por causa do blog) e pra Isabelle Freitas (a chata mais chata do mundo, que espalha meu blog pra todo mundo e me faz mais feliz ao descobrir "admiradores" pro ái)!

13 janeiro, 2013

A paixão

Um dia, nos primeiros dias, aqueles em que as janelas acordavam embaçadas, friozinho ameno, temperatura local, eu acordei. Acordei atordoada no meio da noite, com uma saudade que não me pertencia. O corpo do meu lado, tão perto, me saudava como quem andou longe por tempo demais. As saudades me foram tomando, fiquei acordada noite a dentro. De repente me doía a ideia de adormecer e perder seu sono profundo, sua respiração sem ritmo, seu semi sorriso tranquilo. Te abracei, aninhei meu corpo o mais próximo possível enquanto aquelas saudades inesperadas doíam cada parte do meu eu.
Aquele dia, enquanto dormia e eu vigiava o seu sono, pensei em escrever. Em levantar dali e ver se aquela revira volta no meu eu, na minha dor, poderia e deveria se transformar em escrita, tomar forma em letras, se aconchegar em versos. Mentalmente produzi rascunhos, todos horripilantes, ansiosos, angustiados. Eu não sabia o que estava sentido, se era bom ou se era ruim. Se deveria me afastar, conter, minimizar ou se deveria deixar. A dor foi cessando, o sono chegou de fininho driblando o desespero que significava perder tempo dormindo ao invés de admirá-lo.
O desespero, a ânsia e a saudade naquela noite se instalaram em mim, da forma selvagem e doída que foi. Vi por outras lentes o medo, o querer e a saudade me transformarem brutalmente em amante. Não era mais eu ali, no meu corpo morava mais alguém. A minha alma remendada se uniformizou, e então ali morava eu e você. Você representando o querer infindável, a saudade dolorida e a ânsia urgente.
Naquela noite de inverno quando acordei com saudades e não soube explicar o que me acontecia enquanto me era tomado o pensamento lógico, me foi concebido você. Quando acordei já de manhã não havia mais nada a fazer, eu havia acordado dentro de mim uma centelha altamente inflamável, que desde sua primeira fagulha não quis mais se apagar. Naquele dia eu acordei, mas não só. Naquele dia acordamos, e como se soubéssemos o que fazer abracinho confirmamos em segredo e em silêncio o fenômeno ocorrido na madrugada. De repente eu estava perdidamente apaixonada.


"A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio."
Fonte: 
Wikipedia (paixão)