Um dia, nos primeiros dias, aqueles em que as janelas acordavam embaçadas, friozinho ameno, temperatura local, eu acordei. Acordei atordoada no meio da noite, com uma saudade que não me pertencia. O corpo do meu lado, tão perto, me saudava como quem andou longe por tempo demais. As saudades me foram tomando, fiquei acordada noite a dentro. De repente me doía a ideia de adormecer e perder seu sono profundo, sua respiração sem ritmo, seu semi sorriso tranquilo. Te abracei, aninhei meu corpo o mais próximo possível enquanto aquelas saudades inesperadas doíam cada parte do meu eu.
Aquele dia, enquanto dormia e eu vigiava o seu sono, pensei em escrever. Em levantar dali e ver se aquela revira volta no meu eu, na minha dor, poderia e deveria se transformar em escrita, tomar forma em letras, se aconchegar em versos. Mentalmente produzi rascunhos, todos horripilantes, ansiosos, angustiados. Eu não sabia o que estava sentido, se era bom ou se era ruim. Se deveria me afastar, conter, minimizar ou se deveria deixar. A dor foi cessando, o sono chegou de fininho driblando o desespero que significava perder tempo dormindo ao invés de admirá-lo.
O desespero, a ânsia e a saudade naquela noite se instalaram em mim, da forma selvagem e doída que foi. Vi por outras lentes o medo, o querer e a saudade me transformarem brutalmente em amante. Não era mais eu ali, no meu corpo morava mais alguém. A minha alma remendada se uniformizou, e então ali morava eu e você. Você representando o querer infindável, a saudade dolorida e a ânsia urgente.
Naquela noite de inverno quando acordei com saudades e não soube explicar o que me acontecia enquanto me era tomado o pensamento lógico, me foi concebido você. Quando acordei já de manhã não havia mais nada a fazer, eu havia acordado dentro de mim uma centelha altamente inflamável, que desde sua primeira fagulha não quis mais se apagar. Naquele dia eu acordei, mas não só. Naquele dia acordamos, e como se soubéssemos o que fazer abracinho confirmamos em segredo e em silêncio o fenômeno ocorrido na madrugada. De repente eu estava perdidamente apaixonada.
"A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio."
Fonte: Wikipedia (paixão)
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