04 junho, 2012

pra não esquecer da 1º pessoa do singular

Oi, querida eu. Há quantas anda? Li algo agora interessante, não tão interessante quanto escrever pra si mesma. É idiota, mas o quão mongoloide não sou querendo esconder-me atrás de fechar os olhos, respirar fundo e controlar a voz?! Digo, se fosse um texto, um poema qualquer, de amor, rebeldia ou tristeza, não hesitaria em escrever. Ainda que eles sejam integralmente eu, parece que estou menos exposta. Talvez seja a certeza de minhas palavras direcionarem ao local errado que as lê, ou então seja somente natural. Natural este que eu muito bem observo, anoto, estudo e percebo. Um natural tão, mas TÃO, percebido, que ainda que inconsciente, dança nos limites do que o transforma consciente.
Perdendo o fio da meada, e agora correndo atrás dele, volto ao que li. Li uma amiga parabenizando outra, e citando que as meninas que eram se orgulhariam das mulheres que se formaram. Será que comigo será assim? Digo, era tão fácil saber quem eu era, e o que queria. Hoje em dia a única certeza que tenho é que nada do que antes era absoluto, hoje é certo.
Quando eu era do primeiro segmento do fundamental, até a 4º série, era simplesmente ser, preparar a terra e começar a plantar pequenas sementes do que viria a fincar raízes nos anos conseguintes. Mas será que o que sou hoje é fruto daquela semente plantada e germinada até alguns anos atrás? Digo, é claro que haveriam mudanças e coisas com as quais eu nunca contaria, quando previa um futuro ou algo semelhante a isso, mas ainda assim, talvez isto estivesse dentro do planejamento do crescimento da árvores, dos galhos, das flores e frutos.
O meu medo não é mudar, mudar é bom, o que nunca muda é plausível de questionamento. Mas o meu medo é me perder, dentro de uma conduta tal qual eu mesmo crio, pra ser uma pessoa melhor, sabe? Sempre fui tão coração, tão impulso, tão respirar e sorrir ideologia, mas desde algum tempo pra cá eu venho me policiando, procurando ser mais razão (é claro, pra evitar muitas dores que ser emoção causa). Respirando, deixando de gritar, controlando a voz, extinguindo as palavras não gentis, e assim se segue. Me pondo no lugar dos outros, fazendo sempre o bem, procurando ser sensata, e sei lá, mais o caralho à quatro. Deixando de chorar, de dizer que eu amo, que eu odeio, que eu sofro, pra fazer disso material que forme degrau, pra que eu chegue sei-lá-onde e sei-lá-porquê.
O receio que me ronda, é me perder no meio do caminho. Se minha essência fosse a Carol com lágrimas ao ver algo bonito e ao se enraivecer? A que grita, xinga, sente, chora, escreve, vive, sonha? Onde já se viu eu me questionar inúmeras vezes por escrever e publicar algo assim, quando o que eu mais faço, e só faço, é me expor, e ainda assim não querer tomar essa 1º pessoa do singular?
Em algum momento eu devo ter me retirado da equação (e pode ter acontecido depois de tanto repetir isso pra mim mesma como solução de todos os problemas) e esquecido o caminho de volta. Ter ficado razão demais, sentida demais, machucada demais e então criado um trauma que não me permitisse o caminho da volta.
Mas quando a gente para, pensa, e não externa, é mais fácil. A gente não sofre, a gente não chora, e se chora, chora quieto, num canto, consigo mesmo. É fácil porque não falando e reforçando o que nos aflige parece que se torna mais fraca a ideia, e então ela morre, e morre sufocada. E vai tudo morrendo, e morre a gente também. Futuro de quem vive é a morte, eu sei, presente também, mas no gerúndio. Mas é só que, são tantos "mas" nesse texto, e os argumentos mais fortes sempre ficam depois do "mas", que eu não sei como continuar. Continuar o que digo aqui, olhando apática a então folha em branco, olhando apática como me torno lamentável tanto por ser emoção quanto por ser emoção.
Porque a gente grita, corre, foge, se esconde, finge não ver, não sentir, não ligar. A gente começa a procurar coisas que não existem, e denominá-las como não são, cavando cada vez mais fundo no vazio, e não sabendo onde parar, pois não há onde parar, porque já estamos parados, na inércia da crise, da vida, da rotina, do não-ser...
Já não sei mais o que escrevo, procuro não ler, mas acabo de lembrar que eu queria me perguntar ao meu eu-futuro, ou eu-passado se me orgulho do que sou agora. Já que no passado desejei ser razão, e no pretérito-perfeito nunca deixar de ser emoção. Espero poder me encontrar comigo mesma no futuro, e ler isso com um sorriso no canto, e olhos semi-molhados, pensando em como achava que toda aquela agonia no vácuo era forte e pra sempre, quando não passava de uma menina carente querendo um abraço e não ter vergonha de chorar, porque se diz pedra, mas no fundo, nem tão fundo, na superfície logo ao alcance de um simples toque, era gente. E gente chora, sente raiva, sente ciúmes, ama, diz amar, chora, deita, e por fim cai na inconsciência. Não que o sono cure, mas adia, e adiar, ainda que seja empurrar com a barriga, ainda que seja ser covarde, é o que a gente faz constantemente, até que do fundo de uma sarjeta imunda a gente se levante. E talvez seja isso, um ciclo, ou estou redondamente errada.
Se algo sei, é que vai passar. Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas que tudo (ainda que desejasse que tudo não) passa. E o que fica é cada vez mais profundo, porque a gente para de cavar no vazio, e começa a criar cicatrizes, traumas, ou felicidades e memórias, e a gente vai se construindo e destruindo, e consertando e pondo defeito, vivendo de comédias e dramas, ciclicamente até achar um livro, ou uma frase, ou alguém que nos levante, e aí a gente esquece a dor, e o choro, e a cicatriz e toda a tristeza moribunda, e por fim acaba-se o que, em suma, nada se diz, mas tudo se regorgeia em palavras vazias, porque vazio ela está, vazio eu estou, assumindo em 1º pessoa aquilo que nem eu sei o que é, mas sei que passa.

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