28 maio, 2012

Em mim te grito. Em ti, me calo


Grito meu amor
te puxo pela camisa
ponho o pé na frente
tu não vê
tu não sente
tu não entende

grito mais uma vez
não obstante escrevo
escrevo em mil pedaços coloridos de papéis
entrego todos a você
você os guarda
saberá lá o que significa?

se você falasse, se você explicasse ou se entendesse
a minha dor passaria, minha aflição se calaria
ainda que rejeite, ainda que não o faça
se soubesse o que grito pra você a todo instante
e esse teu ouvido ocupado com outros tantos gritos não ouve,
e que essa tua voz assustada com outros tantos gritos abafa
se soubesse, se dissesse, se pudesse me ouvir

se paro de gritar, fere aqui dentro
se grito e não ouve, e nunca ouve, o grito fere mais,
finca mais, sangra mais
se acabasse minha voz de tanto gritar-te que meu pensamento toda hora a ti se destina
se perdesse a voz, se perdesse a fala, se perdesse os modos
se perdesse a estúpida coragem de dizer-lhe o que vos grito...
ainda que muda ficasse, que pra longe me mudasse, e da mente apagasse,
ainda assim, aqui dentro, em algum lugar numa esquina escura onde de ti se esconde minha dor,
tua lembrança permaneceria

se em minha voz em ti morresse,
se meus olhos se cansassem de te seguir,
e meu coração de por ti bater
ainda assim, ainda sobre tempestades, trovões e gotas grossas de chuva fria sobre mim
ainda assim, em mim essa aflição moraria

se te grito a todo instante, se te procuro,
vejo, imagino e lembro-te a cada momento
é repetindo pra mim mesma que deixar-te é a solução

se te escrevo novamente, é pra dizer que sou fraca,
ainda que grande bárbara me julgue
é pra pedir-lhe permissão, pra te gritar com o que sobra de minha voz,
antes que comece a doer só aqui dentro,
e que a dor me cale

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