Preciso me esclarecer, me descobrir, me olhar, conversar comigo, afagar meu anseio e sussurrar ao meu ouvido a resposta óbvia e a palavra mágica que fará de tudo melhor. Que encherá de magia as vistas já cansadas das miragens muito gastas, da mente já limitada e dos pés cansados.
Preciso, mais uma vez me tirar da equação, ou me incluir de vez nela. Talvez até achar uma pra mim. Me sinto vagando, passando, sendo passada, sendo marcada e nunca mais marcando. Desistindo, cansando, fatigando, me despedaçando, perdendo cada pedaço de mim na curva ou no balançar da ponte instável que nem tem destino, nem tem outro lado, porque tá turvo. Tá turvo e ta intimidador demais, tá um pé-no-saco demais. Tá lágrimas caindo a toa demais, tá não-sei-o-que-estou-escrevendo demais, mas tem que ser, porque assim exorcizo meus demônios. Do que preciso agora, no entanto, é de achar meus anjos, meu anjo, algo assim, que dê mais um empurrãozinho, porque a lata-velha-tão-velha-da-tal-alma enguiçou outra vez. Não, não enguiçou, mas o motor ta engasgando, ta falhando, ta se quebrando, se partindo, se enfraquecendo. Sozinho, calado, sem vestígios de uma alma fugitiva, só quietinha na sua, não sabendo nem chorar ou sorrir, só sabendo remoer o que em palavras não sai, em lágrimas não se esclarecem e em catarses sem nexo só se entravam nos não dizeres de uma mente tão mil-e-uma-utilidade-foco-zero, de força zero, de alma... de alma zerando, precisando de combustível.
Tá difícil saber, tá difícil entender, continuar, melhorar, se recuperar, dizer "tá, tá tudo bem! Comigo tá sempre tudo bem". Tá difícil, mas tem que ser, pra lição ficar bem guardada na memória. Como lista de palavras decorada, que ocupada, disfarça e não deixa ver que o vazio tá começando a machucar.
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