17 dezembro, 2011

Sobre jogos e pontes


Me olhou. Minto. Ele não me olhou, ele me viu. E com os lábios sibilou claramente: -Xeque!
Poderia dizer que fiz o mesmo, mentiria, não o vi também. O jogo no impasse, os blefes valiam ouro, e o cofre dele estaria vazio se assim fosse. Ele não blefava nem enganava, jogava limpo. Insuportavelmente claro, translúcido e diferente. "Se o cérebro humano fosse tão simples ao ponto de entendê-lo, nós seríamos tão idiotas que não conseguiríamos entendê-lo", assim funcionava comigo. Digo, com ele. Esquece, perdi mais um peão. O cavalo muito bem posicionado, lá se foi o jogo. Digo, o xadrez. Porque os olhares, o jogo no qual me focava, continuou até mais tarde. Os cantos dos lábios sibilavam sorrisos, que nunca passaram de esboços. Tanto fazia o maldito jogo, o que estaria valendo nunca seria o que queria. Não saberiam dizer o que queriam, os olhares não deixavam.
Essa mania insuportável de jogos que só seriam legais se ganhasse, e sempre ganhava. Ou assim se fazia crer.


E querem mesmo saber? Que se fodam minhas vitórias, é quando eu perco que eu mais quero! Não quero que pensem igual a mim, não quero que correspondam a minha paixonite idiota ou ao meu desejo de ver e tocar. Esteja longe, longe o bastante pra que eu queria atravessar essa ponte. Você me entende? Não quero que esteja a um passo, quero atravessar pontes. É por isso, e unicamente por isto que não consigo tirar meus olhos ou meu maldito pensamento de você. Você está longe o bastante, e eu almejo. Mas é diferente, mais uma vez.
Quando está perto demais, ainda assim o almejo contra pondo meu anseio por pontes. Não creio que uma ponte até você seja no que se resuma esse calor louco que não me deixa dormir esta madrugada, me veio estranhamente uma ideia na cabeça. Ei, você, você aí do outro lado que estranhamente me interessa e chama... Ei você, quer construir uma ponte comigo esta noite?

Foi assim, basicamente assim. Joguei o tabuleiro, a toalha e qualquer coisa significasse desistir do jogo.
Éramos eu, e na minha esquerda me acompanhavam na travessia a Insegurança, o Medo e a Esperança. A esperança lá no canto, perdendo-se facilmente a cada movimento brusco.
A ponte longa, tinha um nome, não me lembro agora. Não devia importar. Os passos firmes, o madeira resistia. Longos passos, meu equilíbrio resistia. A ponte longa, eu resistia, estava atravessando.

Esquisito, não? Quando você não quer ganhar o jogo, mas exatamente perder.

3 comentários:

Anônimo disse...

scooby dooby doo where are you?
we need to find you now

Eliza (Biii) disse...

Sem sombra de dúvida este é um dos melhores textos que você já escreveu, mocinha. Eu tinha mesmo certeza de que você deveria voltar a fazer isso.

;) disse...

Sem sombra de dúvida este é um dos melhores textos que você já escreveu, mocinha. Eu tinha mesmo certeza de que você deveria voltar a fazer isso.