18 fevereiro, 2013

Felicidade pela tristeza

Ás vezes fico triste. Fico triste e sei que posso dar a essa tristeza um quadrilhão de nomes, desculpas, porquês. É o fim da escola, é o não passar no vestibular, é o pai, a mãe, a tpm e o falatório do mundo em volta. Porque o mundo, olha o mundo... é de uma poluição sonora horrenda! Eles gritam, cantam, batem, martelam, perfuram, espremem, cortam, lixam, morrem. Morrer é silencioso. Imagino que quando a gente morre o espetáculo tem tempo diferente pra gente, uma perspectiva quietona, lerdona, tipo novela. Acho que morri. Morro muitas vezes, mas morro sempre que vejo que não há desculpas pra esse nózinho na garganta doído que aparece de repente. É uma tristezinha que tem seus tipos, e esses tipos me estapeiam na cara atônita, na cara cansada, com a face arruinada, calada, morta.
Essa minha imensa mania de ser eu me cansa. Tão mais fácil ser outro. Outras preocupações, outras pessoas, outras vidas, afazeres. Se ocupada, atolada. Se vazia, entediada. Um escritor, cujo nome não me lembro, muito menos a citação exata, disse isso. É preciso ter o amargo para valorizar o doce, e vice-e-versa. É essa nossa eterna mania de pôr a felicidade inalcançavelmente longe do toque. Tem outro poeta que disse isso, Vicente de Carvalho:


"Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos."

 

Sei lá onde estou onde pus a danada, tô procurando, vou achar! Porque creio que felicidade mora em cristaizinhos pequeninos, cada coisa, cada gesto, cada pessoa nos traz um pouco de felicidade e estar feliz é conseguir o arranjo sincronizado e harmônico do todo, montar esse tal monumento da felicidade geral com estes cristaizinhos. Satisfação.

12 fevereiro, 2013

"José"

Poema de Carlos Drummond de Andrade,
 poema que mareja os olhos do José que vive em mim, em todos nós.
E que cutuca o coração do José que não continua,
 mas também não morre.




              "E agora, José?
              A festa acabou,
              a luz apagou,
              o povo sumiu,
              a noite esfriou,
              e agora, José?
              e agora, você?
              você que é sem nome,
              que zomba dos outros,
              você que faz versos,
              que ama, protesta?
              e agora, José?

              Está sem mulher,
              está sem discurso,
              está sem carinho,
              já não pode beber,
              já não pode fumar,
              cuspir já não pode,
              a noite esfriou,
              o dia não veio,
              o bonde não veio,
              o riso não veio
              não veio a utopia
              e tudo acabou
              e tudo fugiu
              e tudo mofou,
              e agora, José?

              E agora, José?
              Sua doce palavra,
              seu instante de febre,
              sua gula e jejum,
              sua biblioteca,
              sua lavra de ouro,
              seu terno de vidro,
              sua incoerência,
              seu ódio - e agora?

              Com a chave na mão
              quer abrir a porta,
              não existe porta;
              quer morrer no mar,
              mas o mar secou;
              quer ir para Minas,
              Minas não há mais.
              José, e agora?

              Se você gritasse,
              se você gemesse,
              se você tocasse
              a valsa vienense,
              se você dormisse,
              se você cansasse,
              se você morresse...
              Mas você não morre,
              você é duro, José!

              Sozinho no escuro
              qual bicho-do-mato,
              sem teogonia,
              sem parede nua
              para se encostar,
              sem cavalo preto
              que fuja a galope,
              você marcha, José!
              José, para onde?"

06 fevereiro, 2013

Sobre músicas fofas na madrugada



Há algum tempo atrás, depois de assistir um bom filme teenager americano ou então ouvir uma bela música fofinha eu podia ficar por horas parada, imaginando um amor impossível, um amor platônico, um futuro recheado das mais diversas cenas dignas de filme americano, de comédia romântica pra ser mais exata.
O tempo passou, deixei de assistir boa parte desses filmes, fui vivendo a parte da "desilusão amorosa" do roteiro. Desacreditando, preferindo procurar e acreditar numa realidade mais fria, mais racional, menos sonhadora, detalhista, sorridente e apaixonante. Convenci eu mesma a deixar de lado os sonhos utópicos, as vezes em que rolava na cama antes de dormir imaginando mil e uma situações. Acabei por ganhar de mim mesma na batalha, o lado um-pouco-mais-realista ia tomando espaço, plantando e enraizando suas ideias.
Hoje essas músicas, esses filmes continuam ainda a mexer comigo. Hoje no final feliz de cada um desses filmes, quando toca uma música feliz e animada para nos convencer de que o filme foi ótimo e adoramos, eu sinto um aperto enorme. Talvez eu pudesse dizer que é saudade, mas não é. Ou não, é só saudade. Hoje no fim de cada filme ou no percurso melódico de cada uma dessas musiquinhas apaixonantes, sinto dentro de mim a agonia de não conseguir externar o suficientemente o que sinto, não conseguir (nem mesmo gritando) dizer alto o bastante o que sinto. Entender, nomear, rotular, explicar, exemplificar, justificar.
Hoje, em cada momento desses que para  mim já significaram tantos outros sentimentos mais, sinto a agonia de amar. Sim, porque amar é agonia pura. É aquela coisa chata (porém amável) que se instala em você e não te permite etiquetar ou externar. Hoje, a cada musiquinha fofa que ouço tocar na rádio eu penso em você, e como não sei nada de nada. Mas que também não quero saber, por mais que eu queira, e quero, e quero muito! Eu fico aqui pensando, agoniada, suspirando, variando entre os pensamentos. Que bicho me mordeu? Poderia jurar ter sido um zoológico inteiro! Mas não há bicho, não há razão, não há nem palavra que complete ou nomeie. Poema, texto, imagem, frase ou gesto. E isso só cresce, e cresce. E eu? Eu só agonizo, agonizo, e me torno casa desse monstruoso amor. Mas amor também não é a palavra, não é o bicho.
Às vezes, e isso acontece com alguma frequência, nem o verbo amar me parece suficiente, nem se gritado. Parece tudo tão grande, alegórico e conhecido. Mas mais uma vez, não é. Se algo aqui é, se algo aqui existe, é essa agonia do "eu te amo" não expressar o suficiente.
Continuo na busca, quero achar algo que diga tudo. Que se encaixe, mas sem fronteira, pro bicho crescer em paz, até me explodir se preciso. Mas continuo na busca, quero achar essa palavra, gesto ou esse ovni que vá representar meu amor, meu bicho, minha agonia.
Eu te amo, e mesmo isso não sendo o suficiente para dizer tudo o que quero, é, por ora, o melhor que eu tenho pra te dizer agora.

01 fevereiro, 2013


Outro dia entre a correria e mais correria causada por motivos de: ser enrolada, aconteceu algo muito interessante e que agora junto ao que acaba de me acontecer, não posso deixar de contar a quem me lê. Leitores invisíveis que acabo de constatar que existem. Sim, você aí que me lê, eu tenho dúvidas da sua existência!

Lá estava eu, sendo fodida ferrada pela burocracia infernal de um cartório. Choramingando ao carinha que me atendia para que conseguisse abrir uma maldita firma em meu nome. Enquanto tagarelava e enchia o ser de desespero, eis que o bendito diz: "Olha, eu sei que você é gente boa. Eu te conheço e tal, mas não posso fazer, sua identidade tem que estar em dia...".
Depois de mais uma dose do chororô pela validade da minha carteira de identidade é que caio em mim e me pergunto: "Como assim me conhece?! Nunca o vi mais burocrático!".
Foi quando de tanto insistir ao perguntar de onde conhecia o carinha que estava me atendendo e me fazendo choramingar pela identidade vencida, ele disse: "Você não é dona daquele blog, Uma Louca Pede Help?".
Gente, vocês tem noção do que foi isso? Alguém, de quem nunca vi o rosto, de repente ao me atender no cartório me reconhece pelo blog? Ok, vocês não devem saber o que é isso, ou o que isso provoca em mim, mas sei que fiquei boquiaberta. Alguém "reconhcendo" meu trabalho... Ok novamente, isso de trabalho não tem nada, não ganho por isso, escrevo por prazer, mas olha, fiquei pasma, muito feliz. "Três anos e um desconhecido me reconhece na rua. Nada mal, Caroline!".

Hoje casualmente uma amiga falou do meu blog, e de como ela acha que escrevo bem. Acho incrível receber elogios sobre o que escrevo, meus escritos são a parte de mim mais verdadeira e exposta que alguém pode conhecer. Mas quando esse elogio vem de alguém próximo, de alguém que não tem o costume de ler o que escrevo no blog pela obrigação de me ser próximo, parece que pesa mais.
Já fiz amigos virtuais e amigos reais que me foram dados pelas palavras que aqui posto. Nada como a sua alma transfigurada em versos públicos para que alguém se identifique e compartilhe da dor, do amor, ou do vazio. Aos amigos que me leem, um imenso obrigada. Não to me achando nada por favor, mas tenho que agradecer aos que me leem. Não que estejam prestigiando um grande poema, um belo texto, mas estão me encorajando a escrever, a continuar. Escrever é uma forma de se contornar, se conhecer, usar do tato intelectual, mas se não houvesse público talvez eu não escreveria. Talvez eu não sentisse a necessidade de me por em frente a folha em branca e tratar com honestidade o que sinto.
Hoje recebi um dos elogios mais lindos que em 3 anos de pseudo-blogueira já recebi, deixo ele guardado aqui. E que eu escreva e possa tocar ainda mais amigos, seja com lágrimas, esboços de sorrisos ou gargalhadas (acho que nunca), é muito saber que alguém do outro lado pode se identificar e se emocionar com algo tão meu.

"Então, sabe quando alguma coisa tem aquele "gostinho de casa"? Aquela sensação de conforto e tranquilidade, o tipo de coisa que a gente só da atenção realmente quando volta a dormir no nosso proprio quarto depois de seculos viajando? Acho que ja faz tanto tempo que me acostumei com o que voce escreve, que cada palavra lida me traz essa sensação. Cada texto se encaixa nas minhas situações de uma forma tão suave... Mesmo se as vezes eu passar meia eternidade sem ler ou ouvir uma palavra sua, é só ir pro seu blog que cada frase, versoou vírgula que seja carrega sua voz, seu olhar sério mas que, no fundo, traz aquele brilho sonhador, brilho de menina-mulher, brilho de esperança. Por isso que o que voce escreve sempre me deixa inspirada, é porque vem de você. Ok, nunca fomos muito próximas, mas dizem que quando alguém escreve assim, as palavras saem do coração, e o seu olhar transmite isso. Por isso sinto que conheço voce mais intimamente, apesar de nunca ter muita coragem pra aprofundar uma conversa, ou nossa amizade. Minha timidez ainda lança barreiras ao meu redor.. Enfim, sua escrita é terrivelmente adoravel, voce tem um olhar detestavelmentee inspirador, e é uma pessoa que me traz esperança. Esse é um dos momentos em que eu precisava de esperança, e voce me trouxe isso mais uma vez, mesmo sem querer. Obrigada por isso, e obrigada por escrever tão bem. E eu espero ter feito algum sentido." Um "Oi, muito obrigada" especial pra Bruna Burgos (que fez o comentário acima), para Miriam Paim (uma fofa que esbarrei na internet por causa do blog) e pra Isabelle Freitas (a chata mais chata do mundo, que espalha meu blog pra todo mundo e me faz mais feliz ao descobrir "admiradores" pro ái)!