09 dezembro, 2010

Madrugada insana


Por mais que todas as folhas caiam e a árvore se seque, haverá um tempo em que os galhos secos se encherão de vida até que não lhe caiba mais tantas folhas. E então o clima cooperará, as folhas caem, o galho se fortalece, e depois o ciclo toma forma de novo. Fora assim nos meus últimos anos, alguns passei em frente á TV, outros tanto dormindo, alguns escrevendo, alguns embaixo das cobertas e me tapando do mundo, e outros me preparando para a primavera e suas novas folhas verdes.

Desde que ele se fora, nada sobrara em mim, nem o som da sua voz melódica, nem sua cara emburrada para mim quando fazia algo imprudente ou sem pensar, nada sobrara. As memórias foram indo para o passado como em fila indiana, e eu... Bom, eu não lutei depois dos primeiros meses.
Foi em agosto, quem dirá setembro, que não havia mais nada. Mas dizem que física odeia espaço vazio, mas não ocorreu nenhum estrondo horroroso e assustador como aconteceria em uma tempestade. Na verdade, quisera eu que fosse uma tempestade. Comecei á tocar a vida para frente, meio que arrastada, mas ela ia aos poucos vencendo o atrito, embora devo confessar que ele era quase mais forte que eu. Ás vezes batia um cansaço, um desânimo, uma vontade de férias.
A vontade se foi assim que consegui as tão sonhadas férias, porém na verdade, não sabia se as desejava tão desesperadamente assim. Talvez fosse coisa tola de adolescente, ter algo do que reclamar, embora não me faltasse escolhas na época.
Bom, sobre a escola não havia nada muito específico a citar, embora as péssimas notas fosse algo novo para mim. Amizade? Tá, eu não saberia lhe informar sobre aquilo, era instável demais em relação á mim e ao meu humor.
Por meses fiquei presa a alguma história de um livro surrado que ficou do lado da minha cabeceira durante muitas quedas e recuperações, durante muitas vidas que esse ciclo teve. Hoje em dia ele fica guardado em uma caixa, no canto inferior esquerdo do meu armário de bagunças. Os quatro exemplares surrados me traziam dor, mas também me traziam a história de algo que seria legal contar algum dia. Quando a cicatriz já não mais doesse, é claro.
Eu estava boa -não curada- mas estava vivendo quando o ciclo se repetiu pela 1° vez. Eu estava, não parada, mas em piloto automático quando o bonde passou e eu sem pensar muito subi nele. A história se repetiu algumas vezes, cada coisa de forma diferente visto a olhos nus, mas do mesmo modo quando visto com as artérias do coração. Parece algo besta - afinal, artérias?! Que louco escreveria que o coração vê o amor com artérias?- mas decidia ser mais realista vez em quando, e estas coisas escapuliam da minha mente previsível.
Na verdade, eu poderia muito bem culpar minha mente por todos esses ciclos iguais e diferentes que vieram acontecendo comigo repetidamente e intoleravelmente desde então, porém não parecia certo comigo mesma. Eu não era a culpada da história, mas também não queria que ele fosse. Sempre tão gentil e prestativo, não queria ser egoísta agora. Então, em uma atitude razoável, dividimos a culpa. Ele ficaria com a falta de resistência, e eu com a persistência. Vendo assim, até pareceríamos um casal de certo modo.
Num jogo de tabuleiro com dois participantes a cautela era necessária, mas quando os peões tomavam vida era algo desastroso e fora do controle. Não me acostumei muito a isso, e ainda hoje não entendo como pode? Ás vezes me sentia em um tabuleiro de xadrez de bruxo. O que me irritava não eram os jogadores ou as peças sempre brancas, era ser independente e tão alheia aos peões. Mas quem dera se meu problema fosse a luxúria de comandar apenas, o jogo era viciado e eu nunca ganharia. Nem trapaças eram permitidas, quem sabe não havia um feitiço protetor? Quase como no cálice de fogo, pena que eu nunca tomaria do vinho.
Foram assim meus últimos dias desde que o ultimo ciclo se finalizara no outono passado. Contei os dias como meses, e tive momentos de devaneios profundos. Alguns insights que não deram muito certo e espirros causados pelo pó dos exemplares surrados que resgatei a uma semana (e agora saibam que conto com o relógio). No verão, começa tudo de novo, talvez por isso eu goste tanto de inverno, é neutro o bastante para se parecer com a Suíça e não ter frutos nem perdas.
Agora tenho que ir pro meu casulo genérico, são 01:30 e acho que o que eu escrevo já nem deve mais fazer sentido.

Mas antes,
um brinde aos dados viciados!

Um comentário:

Anônimo disse...

uahuahuahauauauhau
o final foi ilario e ironico
em outras palavras...

Um brinde ao que me fudeu!

mas achei um tanto comfuso, não parece que vc está falando da mesma historia, o que não significa que vc esteja falando da mesma historia, mas achei muito interesante eu tambem já vivi e pensei coisas parecidas até mesmo com algumas metáforas que vc usou...

mas continue escrevendo que eu continuarei lendo o que vc escreve.

beijos
boa noite