Há uma parte de mim, que não importa o quão lúcida, simples e básica eu me encontre, sempre se encontrará bagunçada. Tanta sobriedade para quê mesmo?! Assim me lembro porque meço palavras, ou porque parei de medi-las, e junto parei também de proferi-las.
Uma parte dentro de mim não se importa com o quão explicada e plena eu esteja, sempre se encontrará atada a nós, para me lembrar da insustentável leveza do ser. Talvez nem de fato importe minha sobriedade, minha maturidade, minha ponderação. Talvez bêbada o suficiente eu consiga desatar esses nós.
Devo, não nego, ter medo das palavras que uso. Admito que neguei, pois não devo, mas com certeza, temo. Posso pensar e falar de você todo dia, a toda hora, mas te contar isso faz dessa verdade instável. Parece que então, de repente, por mais que a corda continue a mesma, e o equilíbrio também, a confiança do equilibrista muda. Sempre digo que falar, pronunciar, a-n-u-n-c-i-a-r, torna tudo mais concreto. O que explica esse medo do real? É que sou demasiado acostumada com o abstrato, o real me assusta, tornar algo concreto é prendê-lo à imagem, à forma.
Acompanhe-me se ainda não se perdeu, e se se perdeu, por favor, continue! Desse meu jeito enrolado, digo ainda boa parte nos olhares assustados, não me deixe sozinha, ANDIAMO, te mostro o caminho! Sentimentos, pensamentos, conceitos são, de alguma forma, verdades. Se te gosto, e sou imbecil o suficiente para admitir isso, te digo: "te gosto". Seria então tornar uma verdade, um sentimento, uma verdade pontual, em coisa concreta. Entende o equívoco? Anunciar é, para mim, tornar concreto. Mais real, mais palpável, mais imutável. É prender uma verdade, não absoluta, mas pontual e, por algumas vezes efêmera, em uma forma. Emoldurar, concretizar e enformar é tão absoluto, tão não-mutável, diferente da verdade, tão bailarina nos extremos do existir.
Eu sei, esse papo é meio esquizofrênico, mas como falar então que eu não digo as mil doçuras que a ti em pensamento destino, pois isso seria tornar oficial verdades que podem deixar de existir ou se transmutarem no instante seguinte? O eu te amo não é pra sempre, é pontual, e o pra sempre... O pra sempre também, e ele se limita a breves instantes, é como um eterno F5.
Não é por mim, eu sobreviveria, e talvez até sã, às mutações das minhas verdades, mas temo que não aprendas como funcionam de forma efêmera, ainda que por muitos instantes, ou até durante todos os meus instantes, ela esteja presente [a tal verdade pontual]. E talvez essa seja uma verdade imutável, a total instabilidade de minhas verdades e o receio de machucar ao jurar uma afeição de instantes.
Quantos instantes me ocupa, há quantos instantes me habita? Meus instantes são demorados, mas ainda são instantes. E instantes podem ser tão eternos [e ternos] às vezes, que posso até te amar por toda eternidade só pelo instante em que a luz da tela ilumina seu rosto no escuro, e então não existe mais nada.
Eu sei, esse papo é meio esquizofrênico, mas como falar então que eu não digo as mil doçuras que a ti em pensamento destino, pois isso seria tornar oficial verdades que podem deixar de existir ou se transmutarem no instante seguinte? O eu te amo não é pra sempre, é pontual, e o pra sempre... O pra sempre também, e ele se limita a breves instantes, é como um eterno F5.
Não é por mim, eu sobreviveria, e talvez até sã, às mutações das minhas verdades, mas temo que não aprendas como funcionam de forma efêmera, ainda que por muitos instantes, ou até durante todos os meus instantes, ela esteja presente [a tal verdade pontual]. E talvez essa seja uma verdade imutável, a total instabilidade de minhas verdades e o receio de machucar ao jurar uma afeição de instantes.
Quantos instantes me ocupa, há quantos instantes me habita? Meus instantes são demorados, mas ainda são instantes. E instantes podem ser tão eternos [e ternos] às vezes, que posso até te amar por toda eternidade só pelo instante em que a luz da tela ilumina seu rosto no escuro, e então não existe mais nada.
Tem um livro que diz (diz, diz e repete):
MAIS ALÉM, MAIS ALÉM, MAIS ALÉM. Será que há algo mais além? Que a gente vai aprendendo, anexando, digerindo? Será que há algo além dessa verdade pontual, ou desse instante eterno? No livro ele pergunta "mais além?", e ela, tão sábia, leve, responde: "nada além".
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