15 agosto, 2012

blablabla pra variar

  (Acredite, é pra ler ouvindo isso)



A gente precisa de tudo pra perceber que na verdade não precisa de nada. Eu sei, é clichê, mas é que não tem como não ser, sou uma puta clichê, todos sabemos disso. Esse meu discurso meio wannabe diferenciado às vezes não diz metade do que os grandes clichês dizem.
Quando eu era pequena e passava o dia com minha prima, depois de colorir milhares de desenhos, montar os mesmos quebra-cabeças de sempre e pintar minha cara de tinta guache, dormíamos com o rádio ligado, baixinho, tocava quem sabe Jota Quest, ou essas bandinhas que sempre tocam de noite. Todo esse clima me lembra também a cidade escurecendo e as luzes amareladas, me lembra passar no banco de trás do carro, esticando o pescoço pra ver as luzes amareladas por toda a avenida, e a rádio, a música tola de fundo. É tão tolo, bobo, infantil, nostálgico. Acho que nunca fui uma criança normal, me lembro que ao dormir na casa de uma outra prima ao entardecer, eu ia pra longe de todos, pra uma parte isolada do jardim, e olhava pro céu, pro dia, pra tarde que virava noite. Dava vontade de chorar quando fazia isso, eu me enganava, pensava que era saudades de casa (sim, eu estava 1 tarde fora de casa, e isso era muito punk, meus caros), mas na verdade era só essa minha alma meio embolada se manifestando do modo que encontrava para fazer isso, e claro, com a música de fundo...
Eis que então perco meu foco, mesmo sem ter um. Eu ia falar das coisas simples, eu acho. Pois bem, quando lembro e quando os funks-meio-que-detestáveis permitem, ligo a rádio e vem toda aquela atmosfera boa, dá saudade da simplicidade. Saudade é outra coisa muito enrolada, assim como eu, sentir saudades é ruim, triste, porque na maioria das vezes é só uma lembrança de algo que não pode mesmo voltar. Eu sei, eu sei, nem pensem em comentar "ah, mas quer dizer que foi bom", eu sei, já disse, mas é que dói saber que coisas tão boas, por mais que abram caminho para outras coisas muito boas, não voltam mais. Viver é único, e a gente percebe isso assim, quando liga o rádio.
Eu iniciei esse post ouvindo a música que me criou todo esse sentimento, mas queria dizer que as coisas simples mesmo assustam, porque elas não são premeditadas, não são pré-aceitas, moldadas e os carambas todos, e assustam pela intensidade que trazem consigo, como o amor, que eu sempre falo, sempre esperneio, mas que se chegar, e se chegar, eu não vou reconhecer, não vou saber falar, sentir, agir... E eu poderia falar sobre isso, mas quero deixar aqui só a  imagem das cores do visor do rádio na noite fria caindo, enquanto eu, cansada de pintar e ser pintada de guache repetia pro meu tio que eu não viraria vascaína "nem que a vaca tussa" (sim, eu me expressava muito bem já naquela época).
E essa sou eu, depois de 2 anos e meio usando o blog finalmente no formato em que blogs de verdade se baseiam, em textos sem grandes propósitos, meio diário, meio sei lá. Meio me expondo, meio sendo eu mesma, sempre usando "meio" alguma coisa pra explicar algo que é inteiro, tão inteiro que, se páh, até transborda.
Boa noite, e se tiver algum leitor aí, me desculpe (ou não, até porque o blog é meu) pela mudança, ou pela música, mas foi o que consegui, o que me tocou, o que me lembrou e provocou toda essa minha baboseira aqui. Por menos listas de reprodução, e por mais rádios, me despeço.

YEAH YEAH TCHUBIRAWN DOWN DOWN

10 agosto, 2012

E lembrar, lembrar acima de tudo que ainda há pessoas doces, atitudes nunca antes imaginadas e o tempo, pra nos trazer com sabedoria tudo aquilo que deve ser nosso.

06 agosto, 2012

Sobre verdades pontuais e anúncios


Há uma parte de mim, que não importa o quão lúcida, simples e básica eu me encontre, sempre se encontrará bagunçada. Tanta sobriedade para quê mesmo?! Assim me lembro porque meço palavras, ou porque parei de medi-las, e junto parei também de proferi-las.
Uma parte dentro de mim não se importa com o quão explicada e plena eu esteja, sempre se encontrará atada a nós, para me lembrar da insustentável leveza do ser. Talvez nem de fato importe minha sobriedade, minha maturidade, minha ponderação. Talvez bêbada o suficiente eu consiga desatar esses nós. 
Devo, não nego, ter medo das palavras que uso. Admito que neguei, pois não devo, mas com certeza, temo. Posso pensar e falar de você todo dia, a toda hora, mas te contar isso faz dessa verdade instável. Parece que então, de repente, por mais que a corda continue a mesma, e o equilíbrio também,  a confiança do equilibrista muda. Sempre digo que falar, pronunciar, a-n-u-n-c-i-a-r, torna tudo mais concreto. O que explica esse medo do real? É que sou demasiado acostumada com o abstrato, o real me assusta, tornar algo concreto é prendê-lo à imagem, à forma. 
Acompanhe-me se ainda não se perdeu, e se se perdeu, por favor, continue! Desse meu jeito enrolado, digo ainda boa parte nos olhares assustados, não me deixe sozinha, ANDIAMO, te mostro o caminho! Sentimentos, pensamentos, conceitos são, de alguma forma, verdades. Se te gosto, e sou imbecil o suficiente para admitir isso, te digo: "te gosto". Seria então tornar uma verdade, um sentimento, uma verdade pontual, em coisa concreta. Entende o equívoco? Anunciar é, para mim, tornar concreto. Mais real, mais palpável, mais imutável. É prender uma verdade, não absoluta, mas pontual e, por algumas vezes efêmera, em uma forma. Emoldurar, concretizar e enformar é tão absoluto, tão não-mutável, diferente da verdade, tão bailarina nos extremos do existir.
 Eu sei, esse papo é meio esquizofrênico, mas como falar então que eu não digo as mil doçuras que a ti em pensamento destino, pois isso seria tornar oficial verdades que podem deixar de existir ou se transmutarem no instante seguinte? O eu te amo não é pra sempre, é pontual, e o pra sempre... O pra sempre também, e ele se limita a breves instantes, é como um eterno F5.
Não é por mim, eu sobreviveria, e talvez até sã, às mutações das minhas verdades, mas temo que não aprendas como funcionam de forma efêmera, ainda que por muitos instantes, ou até durante todos os meus instantes, ela esteja presente [a tal verdade pontual]. E talvez essa seja uma verdade imutável, a total instabilidade de minhas verdades e o receio de machucar ao jurar uma afeição de instantes.
Quantos instantes me ocupa, há quantos instantes me habita? Meus instantes são demorados, mas ainda são instantes. E instantes podem ser tão eternos [e ternos] às vezes, que posso até te amar por toda eternidade só pelo instante em que a luz da tela ilumina seu rosto no escuro, e então não existe mais nada.
Tem um livro que diz (diz, diz e repete):  MAIS ALÉM,  MAIS ALÉM, MAIS ALÉM. Será que há algo mais além? Que a gente vai aprendendo, anexando, digerindo? Será que há algo além dessa verdade pontual, ou desse instante eterno? No livro ele pergunta "mais além?", e ela, tão sábia, leve, responde: "nada além".