A gente vai por aquele lance carnal, aquela verdade estúpida, o jogo pisar e ser pisado. A gente gosta de apanhar, de correr atrás, chorar, fazer birra, declarar. Mas no final, a gente abre mão, deixa ir, com narinas inflamadas observando a beleza do céu laranja do dia ao nascer. O laranja, a cor linda que não é nada além da sujeira, da poluição combinada com sei-lá-o-que e torna tudo tão bonito, mas ainda sujo.
A gente chora por cada bobagem, bom, não sei vocês, mas eu choro por cada idiotice. Veja bem, eu aqui, achando bonito um desses amores sujos indo embora, feliz e bonito como o pôr do sol laranja e imundo, cheios dos erros que mantemos vivos todo santo dia. Seja dia de bater, apanhar, correr ou deixar ir. Ainda que seja esse amor sujo urbanóide de beira de esquina fedendo a mijo dos mendigos e seus esparadrapos podres.
Será que amar implica nisso? Deixar ir, voar, pra não se machucar mais, pra não deixar que vire algo feio e rancoroso? Como diria alguém, "deixo as coisas que amo livre"? Amar ao ponto de querer o melhor, de deixar voar, escapar, sair do alcance, perder de vista?
O amor e suas diversas faces, do compartilhar o sono ao deixar ir. É tudo amor no final das contas, quando a gente chora porque é bonito, porque é leve, porque deixamos ir, sem pestanejar, pra não matar o amor, e deixá-lo então vivo para sempre. E que a fé no amor nunca morra, eu peço baixinho, choramingado ao que estou tornando livre.