14 novembro, 2010

run


Nada parecia suficiente ali, nem a música e nem a água que caia do chuveiro parecia fria o suficiente para a fazer pensar em outra coisa.
Na sua mente tudo estava abafado pelo som interno do seu grito de horror e pelas imagens agitadas que pareciam gritar algo óbvio mas não tinha som para alguém ouvir (se cair uma àrvore longe o suficiente para ninguém ouvir, podemos dizer que fez barulho?).
Saiu ainda calçando o tênis, o calor era insuportável e o Rio de Janeiro também. Correu por alguns quarteirões até que seu fôlego a abrigou a caminhar em passadas longas e barulhentas.
As ruas estavam vazias e silenciosas, de vez enquando achava algum casal em frente aos grandes prédios. Pracinhas sem som, casas com luzes amareladas, mendigos em esquinas abandonadas. Olhava tudo, não enxergava nada. Recuperou o ritmo de corrida e cada vez mais aumentava suas passadas, agora sem ouvir o barulho que junto com o chão produzuria. Seus fones berravam palavras estrangeiras que não seriam apropriadas àquilo a não ser pelo ritmo rapido e alto o suficiente para abafar seus pensamentos.
Parou, olhou ao redor e encontrou uma pedra. Sentou e pôs-se a olhar tudo a sua volta, a terra úmida, as árvores altas e verdes e a lua que estava mais perto dela do que ja estivera um dia. Sentiu o vento forte e frio em seu rosto e não se encolheu, pelo contrário, se expôs á ele. Depois de tanto se esconder, depois de tanto controlar impulsos e medir palavras devia haver algo do qual ela não deveria se esconder ou recuar. Gritou tão alto que nem a folhagem seca e coberta por musgos que havia por todos os lados poderia abafar aquele som. Alguns pássaros se assustaram e voaram, mechendo assim os galhos da árvore debaixo da qual se encontrava. Choveu por curtos segundos, mas pareceu o bastante para tirar o suór excessivo de seu rosto.
Fechou os olhos e deixou que sua mente se concentrasse num barulho longe dali, tinha barulho de água corrente e era cada vez mais confortável ouvir aquilo.
Perante a chuva das gotas de orvalho e a brisa fria, enxugou as lágrimas que já não mais estavam ali e prometeu para sí mesma que nunca mais se sentiria assim, com aquele aperto no coração e a sensação da insuficiência de ar.
Ela mais que ninguém sabia o que deveria fazer dali em diante. Na verdade, mais uma vez, só ela saberia o que fazer por sí propria.
Não se preocupou em recolher as tristezas, mágoas ou seja lá o que tenha deixado naquele lugar, pôs-se de volta para casa em passos calmos e sem pressa. Observou cada metro quadrado que sua agonia em minutos antes não a deixara ver. Cada folha caída pelo outono rígido, cada tronco, cada brisa, cada gota da fina chuva que começava a cair por sobre sua cabeça significava alguma coisa dali em diante. Ou pra sempre, ou por um longo prazo.

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