Era tarde de primavera, naquela cidade pacata e idiota na qual as três moravam, não havia nada mais interessante a se fazer à dar voltas (que seja percebidos o plural da palavra) no shopping.
Três meninas, todas de uniforme, nenhum parecido, mesma escola, sonhos diferentes, risadas compartilhadas e uma forte ligação que talvez seja fruto de uma banda encontrada no myspace qualquer dia desses, ou talvez há um ano e meio.
Andavam e emitiam sons esquisitos (risadas talvez), estavam se divertindo e isso era claro em seus sorrisos e gargalhadas (e que verdade seja dita, assustavam pedestres de uma mesma calçada).
Seus fones de ouvido compartilhados não importando exatamente a música, mas sim a oportunidade de cantar bem alto (e desafinadamente) e talvez pagar mais algum mico também. Foram muitos aquele dia, mas algo interessante aconteceu intercalando suas risadas causadas pelos tropeções da mais desastrada.
Entraram em uma loja, e é claro que isso envolvia mais algum mico, mas algo naquela atmosfera havia mudado, o cara com olhos verdes atrás do balcão talvez, ou então a total falta de atenção dele na menina que tagarelava ao seu ouvido (que me desculpe a primeira menina).
Olhou para a segunda garota e ela sorriu encantada com os olhos verdes que expressavam sabe-se lá o que. Mas algo acontecia com a terceira, que ignorou completamente a comentário adolescente-juvenil da segunda e só se preocupava em segurar suas mãos fortemente e fixar seu ohar no chão.
Seus ouvidos se fecharam para tudo ao seu redor, apenas apitava um som tão agudo que junto com o tremor de suas mãos faziam seu coração bater ferozmente dentro daquele corpo que insistia em mandar adrenalina para onde tivesse espaço vago. Em sua mente passavam imagens mudas de um passado mal resolvido, que evaporou de uma hora para outra e nunca mais havia sido lembrado.
Aquele sentimento adormecido havia sido acordado. Nada mais fazia sentido, o que estaria ele fazendo ali? O que havia acontecido com ele? Porque ela a deixara de uma hora para outra?
Suas mãos suavam, seus joelhos já não mais existiam e seu coração estava mais ali do que já estivera nos ultimos 2 anos e meio. Em sua cabeça as perguntas tomavam o lugar das imagens mudas, e ali tudo estava tão rápido.
Ela queria enfrentá-lo e dizer como ficou quando ele a deixou de uma hora para outra e sumiu da sua vida. De como ela sentiu falta das risadas e sentimentos ocultos. Ela queria simplesmente tocá-lo e saber que aquilo não era um sonho, uma peça que seu inconsciente estava a lhe pregar, mas tudo o que conseguiu fazer foi sorrir e olhar pro chão, despejando toda sua raiva no aperto de suas próprias mãos.
Respirou fundo, ignorou o apito e acalmou seu feroz coração. Lembrou-se de como andar e saiu dali com as amigas, contou-lhes sobre ele e de como havia sido aquela época tão boa e inocente. Falou das perguntas e do tremor também, não lembrava direito de como havia se sentido, crise de ausência, e então o papo não ocupou mais de 10 minutos.
Em voz alta pelo menos.
Dedicado à duas amigas muito especiais.
Aliás, obrigada pelas risadas daquele dia.